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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A PROBLEMÁTICA DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NA PÓS-MODERNIDADE


A evolução das sociedades aconteceu sempre. Vivemos uma época de mudanças incertas e sem condições de dizer ao certo quando iniciou. A última mudança mais drástica vivenciada pela humanidade foi no século XVI quando surgiu a Idade Moderna.

No seguimento da história, notoriamente depois da evolução analítica racional, pela qual, passou o ocidente muitas filosofias surgiram e proclamaram a morte de Deus, sobretudo Nietszche juntamente com o materialismo dialético marxista, se intitularam como os profetas da morte de toda metafísica. Demonstrando apenas o eco da filosofia transcendental teorizada por Kant.

Porém, a profecia Nietizchiana e marxista fracassaram. Na atualidade são inúmeras correntes filosófica que refletem sobre a problemática de Deus. A presença de um Ser Absoluto é percebida em muitos pensadores em suas investigações filosóficas. Tal atitude detecta-se em Aristóteles com o Primeiro Motor; Plotino com o Uno; Agostinho e Tomás com o Deus Cristão; Spinoza no seu Monismo-panteísta; Em Kiergaard o auxílio na angústia está em Deus. Heidegger e sua filosofia apesar de não sustenta explicitamente um teísmo, irá afirmar que somente captamos os entes e não o Ser, pois este é algo incapitável e inexprimível. Sendo assim torna-se algo que também apresenta categorias semelhantes a de um Ser Absoluto.

Após tal ilustração, evidencia-se pela tradição filosófica a valorização e a importância e da problemática de Deus. Transpondo a reflexão para o contexto metafísico na qual refletia-se acerca do Ser - Religioso. Esta experiência inicia-se pela Hieorofania, que se traduz na exibição do sagrado. Tal revelação pode ser melhor explicitada na seguinte citação:

“Não se trata de uma operação lógica, racional. A categoria transcendental da ‘altura’, do supraterrestre, do infinito revela-se ao homem como um todo, tanto a sua inteligência como a sua alma. É uma tomada consciência total: em face do céu, o homem descobre ao mesmo tempo incomensurabilidade divina e sua própria situação no cosmos. O céu revela, por seu próprio modo de ser, a transcendência, a força a eternidade. Ele existe de uma maneira absoluta, pois é elevado, infinito, eterno, poderoso”[1].

Tivemos uma alteração do que possuímos como modelo cultural, foi-se esfacelado. A cultura perdeu a sua unidade, sendo agora o indivíduo e não mais o sujeito como centro de tudo. Segundo Guilles Lipovetsky “nem o sujeito tem posse dele mesmo”. É um momento de espectadores, hiperconsumismo, do relativismo das crenças e das práticas religiosas: uma neutralidade. Há uma insegurança a tudo, idéias, ideologias e, inclusive, em relação ao religioso.

O Bom, o Belo, o Verdadeiro e o Religioso giram em torno do econômico.

Existe um paradoxo entre a religião e pós-modernidade. A modernidade aboliu a religião enquanto sistema de significados e motor dos esforços humanos, mas cria ao mesmo tempo, o espaço-tempo de uma utopia que em sua própria estrutura permanece em afinidade com a problemática da salvação.

“Uma cultura secularizada não é uma cultura que simplesmente deixou para trás os conteúdos religiosos da tradição, mas que continua a vivê-los como traços, modelos escondidos e distorcidos, porém profundamente presentes”[2].

A volta ao Sagrado, é uma volta legitima?
Hoje sob influência das transformações do tempo pós-moderno, o ser humano procura cada vez mais o Absoluto. Antes uma secularização ou uma dessacralização do sagrado, agora uma volta a busca do transcendente. Vejo uma procura por um Absoluto mágico, capaz de dar respostas e soluções imediatas. Uma relação muito parecida com a relação de consumo. Há uma posse do sagrado uma manipulação e seu uso está dentro da institucionalização da experiência do sagrado não é algo somente da religião, mas exógeno, pois acompanha o tempo em que se vivem às sociedades.

Nesse sentido compreende-se que a manifestação dar-se de diferentes modalidades e o Deus dos céus identificados como princípio criador do cosmos. O revelar do sagrado que deveria ser algo que remetesse o homem à transcendência, tornou-se o tempo hodierno uma deturpação do autentico significado do Ser-Religioso. E o Deus Supremo vai perdendo aos poucos sua atualidade religiosa. A posse do sagrado é evidencia nas religiões tradicionais através de dogmas, doutrinas e verdades que “aprisionam Deus”. Assim a revelação é falsificada e muitas religiões especialmente as neo-pentecostais e dizem que fazer milagres confundindo a intencionalidade específica da experiência mítica.

Nem todos são concebidos como Ser-Religioso por apenas participarem de uma instituição, alguns apenas encontram um local para terem preceitos para nortearem sua vida. “A vida deles não é transcendente em si; por isso, anseiam por um transcendente diante de si mesmos. Não são religiosos e, por isso, querem ter uma religião. Por outro lado, porém, a excessiva plenitude do homem religioso freqüentemente reflui para um dogma”[3]

A alternativa está numa dialética aberta e não fechada, pois segundo Desmond “se no meio religioso uma automediação dominante tenta subordinar a alteridade, ela pode produzir um esquecimento da alteridade sacra” (p. 202).

Percebemos que os discursos religiosos não se dão no “entre” metafísico. A intermediação metaxiológica é ela mesma plural. Ela é significativamente dupla, pois a mediação do entre não pode ser reduzida nem à mediação do eu nem à mediação do outro, caso alguma dessas duas posições proponha-se a mediar inteiramente o complexo entre.

Um grande desafio é o fato de vivermos num mundo pluralista, a sociedade é pluralista e não existe mais uma uniformidade. O conceito de idéias universais está em crise e daí entra o perigo de uma relativização em todas as coisas, de tudo, de todos os valores e principalmente do sagrado. Isso sem contar do indiferentismo. É desafiante também conseguir resgatar o sagrado que se manifesta na pluralidade.

Outro desafia é a racionalidade moderna que desconsidera a religião enquanto fonte de conhecimento e não percebe o contato com o transcendente como uma dimensão radicalmente humana. Cria-se um universo fechado, onde não há lugar para a transcendência: nele só há objetos.

Equívocos como a domesticação do sagrado, o formalismo e a racionalidade absoluta apontam, no entanto pista para o homem moderno. A presença do transcendente possibilita aos indivíduos um reencontro consigo mesmos, na provisoriedade. A identidade humana passa pelo encontro absoluto; aí o provisório faz sua síntese com o eterno.

A saída é conseguir aproveitar dos elementos que surgem da pluralidade e encontra nesse meio a manifestação do sagrado ou uma forma de viver autenticamente a relação com o sagrado.
É ser profeta è olhar para o passado estando num presente e conseguir perceber as mudanças e até as que irão acontecer no futuro. Ser uma pessoa de ação e mudar a realidade.

É ser místico è o que encontra inspiração no absoluto, em algo que transcende a si mesmo e a realidade; mas que vive a realidade, que abraça o mistério fazendo sua própria esperiência do inefável, mas sem absolutizar.


Edson Kretle dos Santos
José Arcizio Corteletti
Victor Pereira do Nascimento


[1] Cf, Eliade. Sagrado e profano. São Paulo: Martins fontes, 2001.
[2] Vattino, La società trasparente, 58-59.
[3] Simmel, L’etica e i problema della cultura moderna, 79.


Referência complementar:
MARTELLI. A religião na sociedade pós-moderna. São Paulo: Paulinas, 1995.
DESMOND, W. A Filosofia e Seus Outros Modos de Ser e do Pensar. São Paulo: Loyola, 2001.